Primeiro Passeio fotográfico em Cinfães

Primeiro Passeio fotográfico em Cinfães

15 Janeiro, 2017. Nelson d'Aires

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O primeiro passeio fotográfico, Luz Levada, no concelho de Cinfães, aconteceu nos dias 12, 13 e 14 de Janeiro, 2018, e contou com a presença do Colectivo do Alpendre . O programa consistiu numa visita à Barragem do Carrapatelo e uma visita à serra de Montemuro.


O passeio fotográfico em Cinfães, que aconteceu, nos dias 12, 13 e 14 de Janeiro de 2018, foi a estreia do Luz Levada na realização de eventos dirigidos a grupos de fotógrafos. O Colectivo do Alpendre foi o grupo piloto convidado por mim (Nelson d’Aires) para esta primeira experiência. Este recém colectivo é composto por 10 fotógrafos que vivem e trabalham sobretudo no distrito de Aveiro e Coimbra e que se conheceram numa masterclass “Viagens na Minha Terra” em Maio de 2017.

Brevemente, o Luz Levada, irá divulgar passeios fotográficos abertos ao público em geral.


Dia 0. Sexta-feira.

Depois de ter feito o convite ao colectivo de fotógrafos e este mesmo ter aceitado, falei para o Nuno que seria muito interessante poder incluir no programa, uma visita à Barragem do Carrapelo. Foi em 2009 que entrei e desci pela primeira vez à galeria de uma barragem, a do Alto-Lindoso. A experiência marcou-me, e apesar de estarmos a falar de duas barragens completamente distintas, achei que caso fosse possível, a visita à barragem do Carrapatelo seria um excelente acréscimo de valor ao passeio fotográfico.

Barragem do Carrapatelo, rio Douro, Cinfães, 2018. © Nelson d'Aires.
Nuno Couto Soares, Paulo C Santos e Marilyn Marques no leito da barragem do Carrapatelo, rio Douro, Cinfães, Janeiro de 2018. © Nelson d’Aires.


As nossas intenções eram dedicar a manhã de Sábado à visita guiada ao interior e exterior da barragem. Mas, as visitas só são possíveis durante os dias úteis da semana de trabalho, pelo que o nosso plano desabou pela base. Contudo, achámos que não devíamos deixar passar a oportunidade que a EDP abria para nós. Assim, desafiamos o grupo a chegar um dia mais cedo a Cinfães e fazer a visita na tarde de sexta-feira. Sabíamos que não ía ser possível para todos os fotógrafos conseguirem um dia de férias tão em cima do tempo, mas para nós, bastavam quatro ou cinco pessoas para fazer um grupo e não deixar escapar os contactos feitos. Assim aconteceu, na sexta-feira (dia 0) conseguimos um grupo de cinco pessoas e fomos conhecer e fotografar a barragem. Como bónus, a barragem do Carrapatelo é a única onde se pode pisar o leito do rio Douro, pois há zonas da barragem onde as rochas do leito original não foram tapadas pelo betão.

Retrato de grupo no leito da Barragem do Carrapatelo, rio Douro, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Barragem do Carrapatelo, rio Douro, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

A construção da Barragem do Carrapatelo foi iniciada em 1965 e terminada em 1972. Inaugurada a 18 de Junho de 1972 pelo então presidente da república, Almirante Américo Thomaz, foi o primeiro empreendimento hidroeléctrico a ser construído no troço nacional do rio Douro e é, dos cinco aproveitamentos do Douro Nacional, o que dispõe de maior queda, 36,0 m. (…) É uma barragem do tipo Gravidade, tem uma eclusa de navegação, a primeira a ser construída em Portugal para navegação interior, e ainda uma eclusa de peixes com janelas de monitorização. A central, com uma nave principal de dimensões 95x24x26,5 m, dispõe de 3 grupos Geradores.

Um dos três geradores da barragem do Carrapatelo,rio Douro, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

A visita demorou cerca de duas horas, onde o grupo de fotógrafos, devidamente guiado e informado, foi fotografando, dentro do possível, a beleza e o poder da arquitectura e da engenharia industrial, cuja dimensão é um desafio para o documento fotográfico. Em Portugal o fotógrafo Edgar Martins realizou a exposição “The Time Machine” resultado de um trabalho de cerca de 2 anos em 19 barragens e centrais nacionais. “The Time Machine” foi mostrada no Museu da Electricidade, em Lisboa, em 2011.

O dia acabou com um descanso merecido ao fogo de uma lareira e de uma mesa com caldo verde, queijos e enchidos da região. Ao longo da noite foram chegando os restantes fotógrafos para assim podermos todos acordar na manhã de sábado em território de Cinfães, mais concretamente no lugar de Louredo, freguesia de São Cristovão de Nogueira.


Dia 1. Sábado.

Os primeiros a acordar no sábado fui eu e o Nuno. Acordámos cedo para comprar o maravilhoso pão quente numa das padarias da Vila. Quando chegamos a casa, ainda toda a gente dormia, pois a ceia da noite passada prolongou-se madrugada dentro. A hora e meia ganha na madrugada foi a hora e meia perdida na manhã, mas ninguém se queixou. A manhã apresentou-se muito fria e cheia de neblinas, como é natural nesta altura do ano. A previsão do tempo era de céu nublado com probalidade de chuva, sendo que na serra a probabilidade de nevar era alta. Saímos de casa eram dez e meia da manhã e fomos directos ao rio Douro, para o restante grupo poder admirar o exterior da barragem e as neblinas matutinas entrelaçadas na luz baixa da manhã.


Bárbara Flores com a boa disposição que lhe é característica à saída de casa. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Carlos Palavra na barragem do Carrapatelo a fotografar o rio Douro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Rui Silva, fiel à película 35mm preto e branco , trouxe consigo apenas um punhado de rolos. Barragem do Carrapatelo, rio Douro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Estivemos cerca de meia hora a admirar o rio Douro a partir da barragem, no final apanhamos a estrada CM1022 em direcção a Pias. A estrada acompanha a margem sul do rio e presenteia o condutor com uma paisagem que nos obriga a andar devagar e transforma as janelas do carro em câmera fotográfica.
Até chegar a Pias e à ponte que atravesssa o rio Bestança para seguirmos depois para a serra de Montemuro, fizémos duas paragens não previstas, pois o impulso de sentir o chão de alguns pontos de interesse foram mais urgentes que qualquer programa previamente delineado. Uma dessas paragens foi no parque de lazer do Ribeiro de Sampaio, onde não nos demorámos muito, só o suficiente para nos interrogarmos, como será caminhar pelo ribeiro acima? É uma resposta que talvez tenhamos de responder numa próxima caminhada.

Parque de Lazer do Ribeiro de Sampaio. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Eu e o Nuno saímos à frente e quando chegámos à estrada nacional 222 para atravessar o rio Bestança, tivemos de esperar um pouco pelos dois veículos do grupo que vinham atrás de nós. Após a segunda paragem, alguns dos fotógrafos optaram por seguir um pouco a pé pela estrada encontrando conversa com alguns homens que lá viviam. Como sou sempre a favor de aproveitar o que a estrada nos oferece, não me importei nada de esperar. Enquanto esperámos pude observar as águas rápidas a caminho de desaguarem no Douro. Quando o grupo se juntou novamente sobre a ponte, retomamos viagem em direcção à serra de Montemuro pela margem oeste do rio Bestança, apanhando a estrada CM1027. Como não podia deixar de ser, quilómetros mais acima, já muito perto de Fundoais, uma das muitas curvas que fazem com que o vale do Bestança se mostre majestoso, fez-nos parar e admirar as encostas e a luz que perto do meio dia batia o vale de sul para norte (montante para jusante do rio) e recortava a natureza com uma luz próxima do plano divino.

Vista para o Vale de Bestança.
Bárbara Flores e Ricardo Martins durante uma paragem na estrada CM1027, perto de Fundoais a caminho da Serra de Montemuro. Neste ponto, pode-se observar o vale do Bestança cujo rio nasce na serra e desagua no rio Douro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

O rio Bestança é um curso de água do concelho de Cinfães, em Portugal, que nasce a 1229 metros de altitude em plena serra de Montemuro. Tem uma extensão de cerca de 13,5 quilómetros e desagua em Porto Antigo, na margem esquerda de uma das melhores albufeiras do Douro, entre as freguesias de Oliveira do Douro e Cinfães.

Observar a forma como as nuvens reflectiam a luz lá no alto da Serra, deu-nos motivação para fazermos o resto do caminho sem mais interrupções. Não faltaram estímulos para novas paragens, mas tínhamos de ser rigorosos nesta fase do dia, pois o nosso próximo destino era apanhar a estrada CM1030 em direcção à aldeia da Gralheira. Pessoalmente, adoro o potencial da estrada CM1030, pois para além da estrada ser muito bonita e com um piso de alcatrão excelente para se conduzir na serra com tempo adverso, a paisagem construída pela união do homem com a natureza fascina-me. Ainda não sei descrever por palavras o que vejo naquela estrada, falta-me o vocabulário para o nome da vegetação, das árvores, das pedras, dos grandes rochedos que desafiam o homem a dar-lhes uma idade. O que para já sei, é que pretendo reunir condições para poder trabalhar durante um inverno a envolvente daquela estrada.
A primeira paragem nesta estrada aconteceu aos 1000 metros de altitude. O ponto mais alto da serra de Montemuro fica apenas a 1382 metros de altitude e é povoada até cerca dos 1100 metros. Abaixo ficam apenas algumas fotografias que fiz aos fotógrafos que tentavam perceber a paisagem e fotografar os sentimentos que esta lhes provocava. Em algumas fotografias consegue-se ver um dos factores de ameaça para a fauna e para a flora: as queimadas, que utilizadas de forma sistemática e incorrecta, contribuem para a destruição do coberto vegetal espontâneo, favorecendo a erosão e o desaparecimento de biótopos característicos.

A Serra de Montemuro é a oitava maior elevação de Portugal Continental, com 1382 metros de altitude. (…) A altitude média é de 838 metros. Está compreendida entre o rio Douro, a Norte e o rio Paiva, a sul(…).O ponto mais alto da serra é denominado por Talegre ou Talefe, a 1.382 metros de altitude. (…) Toda a serra tem bastante relevo e é íngreme praticamente de todos os lados. A serra é povoada até cerca dos 1.100 metros de altitude, as aldeias encontram-se espalhadas por toda a serra, mas quase sempre perto de cursos de água, como o rio Bestança que a divide na direcção Sul-Norte.


Depois da primeira paragem na estrada CM1030, arrancamos de novo para subir até aos 1.100 metros de altitude e chegar às primeiras eólicas do parque eólica da Arada/Montemuro. Em apenas 100 metros de altitude, a paisagem mostra-se mais agreste e exposta aos ventos, um assalto aos sentidos.

Na “Crista da Serra”, acima dos 1000 metros, encontra-se uma vegetação arbustiva, onde predominam o tojo e as urzes, como a urze vermelha. Serra de Montemuro, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Primeiras éolicas na estrada CM1030 a caminho da Gralheira, serra de Montemuro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Nesta altura do ano, os terrenos estão quase sempre ensolapados e caminhar exige perícia e calçado adqueado. Serra de Montemuro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Depois de toda a gente ter molhado os pés e de eu ter caído de costas quando tentava subir a um penêdo com forma literal de meia esfera, olhámos para o relógio e para o céu. O céu estava carregado a ameaçar chuva muito muito fria que poderia estragar os planos do piquenique planeado. Mas antes do almoço-piquenique impunha-se ainda uma visita rápida à aldeia da Gralheira. O relógio marcava 13h30 e calculei cerca de uma hora para passear pelas ruas da Gralheira e depois às 14h30 estender a tolha num campo perto da aldeia de Vale de Papas, pois tínhamos encontro marcado com a população local às 15h30 para receber o Bispo de Lamego que iria fazer uma visita ao povoado e depois caminhar em procissão da capela até ao cemitério para rezar aos mortos.

A caminho da Gralheira, Marilyn preferiu correr para respirar mais profundamente o ar da serra de Montemuro. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Chegamos à Gralheira às 13h40, connosco chegou a chuva também. Na Gralheira, hora de almoço, fomos surpreendidos por uma aldeia cheia de carros estacionados nas poucas ruas onde os automóveis têm acesso. Não encontramos lugar para estacionar três automóveis e nas manobras de regresso à estrada principal o grupo separou-se. A maioria dos nossos telemóveis ficaram sem rede e a comunicação entre grupos tornou-se durante largos minutos impossível. Com a chuva a cair com mais intensidade e o tempo a avançar, a caminhada pelas ruas da Gralheira foi anulada, mas faltava juntar ainda o grupo. Como só eu conhecia bem as ruas da aldeia, fui a pé procurar o grupo que faltava. Nesse momento, um nevoeiro denso caiu sobre a aldeia e a temperatura desceu “a olhos vistos”. A chuva transformou-se em água-gelo (os locais assim chamam à chuva que não é neve mas que também não é totalmente líquida) quando encontrei o grupo a sair quentinho de um café com montra para a serra.

Saímos da Gralheira às 14h15 em direcção a Vale de Papas, com muita fome, mas excitados pela água-gelo que se solidificava cada vez mais. Ao longo da estrada fomos vendo o alcatrão a perder a intensidade do preto para dar lugar à brancura do gelo. Vale de Papas fica a 1000 metros de altitude, menos 100 que na Gralheira, são apenas 4 quilómetros de distância (dez minutos de automóvel), mas o suficiente para a temperatura mudar e a neve ficar para trás lá na “crista da serra”. Tínhamos um encontro marcado com o povo de Vale de Papas e não podíamos falhar nem desmarcar. Para sossegar o espírito da neve, alguns dos fotógrafos agarrou o granizo possível ainda nos vidros dos automóveis e fez-se à brincadeira como manda a tradição de bem brincar com o frio.

Enquanto os meninos e as meninas se aqueciam brincando com o gelo, era da minha responsabilidade encontrar um local para o nosso piquenique. Como ainda chovia um pouco, fui procurar uma casa que tivesse algum tipo de cobertura num terreno com acesso público. Felizmente não precisei de procurar muito, encontrei a eira comunitária que tinha uma pequena casa de arrumos/apoio caso fosse necessário abrigo urgente. Às 14h50 começamos finalmente a “almoçar”, não estendemos a toalha, mas usamos as pedras da eira para nos servir.


Piquenique na eira comunitária da aldeia de Vale de Papas. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Piquenique na eira comunitária da aldeia de Vale de Papas. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Ana Carolina a questionar-se se vai ou não dar um trago da “gasolina” que o Rui Silva levou para afastar o frio (palavras dele com o seu gorro de lã) .Piquenique na eira comunitária da aldeia de Vale de Papas. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Aconchegado o estômago e bebido a “gasolina” que o Rui Silva levou para afastar o frio (diz ele), o relógio bateu as 15h30, mas o senhor Bispo estava atrasado, meia hora, disseram-nos. Da eira onde nos encontrávamos fomos vendo os habitantes da aldeia a chegar às imediações da capela. Ao todo eram mais ou menos vinte pessoas que no fim aguardavam o senhor Bispo D. António José da Rocha Couto, que se atrasou uma hora, mas que foi com alegria que os habitantes o receberam na sua capela. Durante a hora que se esperou pelo Bispo, eu fui fotografando um pouco dentro da capela e o grupo foi caminhando pelas ruas da aldeia e conversando com os habitantes, pelo meio faziam algumas fotografias, de forma muito calma. Atitude que me deixou muito contente, pois não gosto que os fotógrafos tomem de assalto retratos neste tipo de localidades e ambientes, onde o tempo tem outro tempo.

Mulheres com capuchas de burel na capela de Vale de Papas, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Aldeia Vale de Papas, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Quando toda a aldeia estava reunida com o Bispo e o padre Germano na capela, resolvi entrar e assistir. Nesse momento não fotografei, quis apenas ver e ouvir. No final das palavras dirigidas aos habitantes daquele lugar alto que “está quase junto do céu”, D. António pediu-nos para tirar uma fotografia daquele momento. Eu tomei a iniciativa e dispus-me a fazer a fotografia indo para o altar, de onde pedi desculpas, que não pretendia ocupar aquele lugar, mas que era o melhor lugar para fazer a fotografia de grupo naquela capela bonita, mas muito pequena.

Entrada para a capela da aldeia de Vale de Papas, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

D. António José da Rocha Couto visita o povo da aldeia de Vale de Papas, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

O Paulo C Santos teve a simpatia de fazer uma fotografia desse momento no lado inverso ao meu ponto de vista.


No final do discurso de D. António, que durou cerca de dez minutos, foi anunciado à população que a reza à memória dos mortos iria ser feita na capela e não no cemitério como estava previsto. A distância ao cemitério era considerável e dada a chuva e ao cair da noite, D. António rezou com a população no interior da capela. Nesse momento, foi quando saí da Capela e fui avisar o grupo de que a procissão ao cemitério não iria acontecer. A notícia não desanimou o grupo, pois estavam já entretidos a conhecer os pastores que recolhiam da serra o gado (vacas da raça arouquesa) para as cortes.

Despedimo-nos de Vale de Papas com a intensidade da hora azul a cair sobre a serra. A temperatura desceu de forma a sentir-se e a chuva começava a solidificar-se em gelo. Para uma viagem segura, não demoramos a seguir a estrada de regresso a casa. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Para regressar a casa escolhemos a estranha municipal CM1027, passando ao largo de Soutelo descendo o vale para atravessar o rio Bestança e depois subir pela Granja até à estrada nacional N321 já perto de Fermentãos e Tendais. Parámos em Fermentãos num café de estrada. Éramos um grupo de onze pessoas e logo enchemos o café cercando o calor de uma salamandra que acolhia com calor todos os clientes. Ficámos com o café “só para nós” e mais um cliente mais curioso que não quis largar as imediações da salamandra. Tomámos café e fomos observando a mistura de ofícios que naquele café existiam. Não é todos os dias que vemos ao lado do balcão, uma máquina de costura e materiais de costura com ar de pouco descanso. Enquanto estávamos todos nós na conversa, o Nuno, enquanto pagava os cafés, falava com o dono do café numa conversa que parecia ser, à distância, uma troca de segredos entre compadres. No fim, chamou-nos e disse-nos que acabara de receber um presente: uma garrafa de aguardente caseira de medronho. Mas que o presente vinha com um conselho que deveria ser levado a sério. Antes de beber, os homens têm primeiro que amarrar os seus “tomatinhos” no carvalho mais próximo, porque a aguardente é das bravas. Ouvimos tudo atentamente e levamos o conselho a sério. No fim fizémos uma fotografia de grupo para memória futura.

Fotografia de grupo com o Nuno ao lado do proprietário do café e da garrafa que o Rui segurava e babava. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Jantar de sábado, frango com caril,gentilmente feito pela Filomena cuja sua receita é uma verdadeira delícia. Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.

Começamos a jantar em casa sensivelmente às 21h30. A Filomena puxou da sua receita frango com caril e domou-nos a todos pelos sabores do seu prato. O serão foi longo, queijos e espumante das terras do demo acompanharam a conversa em volta de alguns livros de fotografia, mas sobretudo sobre os trabalhos que o colectivo pretende fazer no futuro. Eu deitei-me antes das duas da manhã, mas houve quem quis ficar ao fogo da lareira até esta apagar, o que deve ter acontecido já perto do amanhecer.


Dia 2. Domingo.


Manhã de domingo, último dia. Acordei às sete da manhã com o Ricardo (que dormia num quarto acima do meu) a andar de um lado para o outro. Eram sete e meia quando sozinho, saiu de casa para fotografar as neblinas junto ao rio Douro. Habituado a ter que acordar a meio de muitas madrugadas no quartel dos Bombeiros de Oliveira do Bairro para acudir chamadas de emergência, foi o único fotógrafo que resistiu à cama e ao calor da casa para ir fotografar a primeira luz na natureza, a paixão fotográfica dele.
Eu saí do quarto às oito e quando desci as escadas o Nuno já me esperava para irmos à padaria de Cinfães comprar pão quente e outras iguarias. O grupo foi acordando um a um a espaços largos. O dia de Domingo estava planeado ser para descanso, sem horários rígidos. Os objectivos eram apenas dois: uma pequena caminhada até aos moínhos do Nuno e almoço em casa cuja ementa foi bacalhau com natas executado pelos “chef’s” Carlos Palavra e Cristina.

Saímos de casa às 12h00 e só a Marilyn ficou a descansar para recuperar de algumas maleitas. A caminha não era longa, consistiu apenas percorrer um caminho para atravessarmos ponte medieval de Louredo para chegarmos ao local onde o Nuno está a reconstruir dois moínhos para ser o futuro retiro dele em Cinfães e ao mesmo tempo a casa do projecto Luz Levada.


Obrigado a todos! Fotografia de grupo nos moínhos do Nuno, futura sede do Luz Levada, Cinfães, 2018. © Nelson d’Aires.


Texto e seleção de imagens por Nelson d’Aires